História da Energia Elétrica no Estado de São Paulo (1890-1960): Patrimônio Industrial, Paisagem e Meio-ambiente
Projeto Temático: FAPESP 2012/51424-2 (Abril 2013 a Outubro 2017)
Coordenador: Gildo Magalhães dos Santos Filho (USP)
Pesquisadores Principais: Sueli Angelo Furlan (USP) e Cristina Meneguello (UNICAMP)
Logo do Projeto | Trabalhadores da UHE de Piraju (1931) | Desenho técnico da UHE de Itatinga (1906) |
Turbina e gerador UHE Jaguari (1919) | Casa de Força UHE Santa Alice (1907) | Painel de Controle UHE Corumbataí (1925) |
Resumo
No Estado de São Paulo ocorreu um processo histórico complexo, em que a eletrificação se somou à expansão para oeste da fronteira econômica (impulsionada principalmente pela cafeicultura), juntamente com a criação de uma rede ferroviária, a industrialização, urbanização e ondas imigratórias. A “hulha branca”, ou seja, os rios do estado, alimentaram as usinas elétricas que foram essenciais para as indústrias localizadas na capital, Santos, Campinas e várias outras cidades em expansão. Como resultado floresceram indústrias dedicadas a têxteis, papel, alimentos, produtos da cana e muitas pequenas manufaturas.
Este projeto focaliza esse processo histórico da introdução da energia elétrica e também é conhecido como Eletromemória 2, complementar ao Eletromemória 1, “História da energia elétrica no Estado de São Paulo: Documentos – 1890-2005 (FAPESP 2007/53866-4). Este estudo anterior pesquisou as instalações e arquivos das grandes usinas pertencentes ao período que começa por volta de 1960, quando o Estado interveio no setor e foi proprietário de grandes empresas como CESP e Eletropaulo, bem como os novos arranjos corporativos que resultaram da privatização em 1997. O atual projeto inclui companhias elétricas cujas unidades geradoras foram implantadas entre 1890 e 1960, como a hoje privatizada CPFL ou a ainda estatal EMAE, bem como algumas concessionárias menores.
Este é um esforço interdisciplinar composto por pesquisadores de três universidades estaduais (USP, UNICAMP, UNESP) nos campos de História, Patrimônio Industrial, Geografia, Museologia e Arquivologia. Uma amostra com cerca de 60 locais espalhados pelo estado com as usinas elétricas mais representativas foi escolhida para a pesquisa de dados e da memória remanescente. Viagens de campo foram planejadas para serem executadas naqueles locais para desvelar sua importância histórica e diagnosticar a correspondente importância histórica, incluindo o patrimônio industrial e a cultura material, assim como para indicar seu estado de organização e conservação.
Uma parte da equipe pertence à Biblioteconomia e Ciências da Informação para criar, a partir dos relatórios de campo e da documentação encontrada, um tesauro com vocabulário controlado relativo ao patrimônio industrial elétrico e seu meio-ambiente, bem como para gerar um banco de dados relacional e ferramentas apropriadas para permitir o futuro acesso público à informação recuperada.
Metodologia e Abrangência
É necessário ressalvar que os dois projetos seguiram metodologias diferentes de pesquisa. Enquanto o Eletromemória 2 desenvolveu um trabalho abrangente sobre os eixos de características hidrícas e elétricas, história, patrimônio industrial, meio ambiente, arquivos e musealização das usinas, o Eletromemória 1 focalizou primordialmente o levantamento de fontes arquivísticas associadas a usinas e companhias elétricas. Por essa ocasião, foram igualmente visitadas as sub-estações de transmissão elétrica de Assis, Bom Jardim e São Paulo.
Eletromemória 1
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Eletromemória 2
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Sumário de Resultados e Perspectivas
Os resultados do projeto Eletromemória 2 corroboram que as usinas elétricas foram inicialmente construídas por empreendedores locais – fazendeiros, industriais e pequenos negociantes – usando maquinário e conhecimentos fornecidos por casas importadoras, às vezes com a colaboração de engenheiros brasileiros. A perspectiva de lucros logo atraiu o capital internacional e começou uma nova fase, trazendo corporações como a Light and Power Co. para o eixo São Paulo – Rio de Janeiro e a Amforp – que teve êxito ao comprar u59sinas elétricas locais e criar a forte rede regional da CPFL. O que é notável e singular no contexto internacional é a longevidade dessas instalações – um bom número dessas usinas tem funcionado por mais de um século com o equipamento original, ao passo que outras modernizaram as turbinas e os geradores antigos, mas conservaram os edifícios e o ambiente à sua volta.
O patrimônio industrial remanescente foi estudado à luz da respectiva história da tecnologia. A avaliação local envolve reservatórios, tubulações, casa de força, turbinas, geradores elétricos e equipamentos auxiliares, para esboçar propostas de conservação. Foi também desenvolvida uma análise do potencial de musealização associado com esses locais, assumindo uma compreensão ampla e moderna do conceito de museu, para promover a future circulação pública da memória associada. Outra característica do levantamento empreendido foi a busca e avaliação da documentação dispersa. Registros escritos, fotografias e desenhos técnicos antigos foram descobertos dentro das usinas elétricas, ou espalhados por arquivos municipais e particulares, como evidenciado pelo depósito da antiga Light & Power na Traição ou o conjunto de arquivos da CPFL colocado em Jundiaí.
O represamento de rios para a construção de usinas elétricas representou ao mesmo tempo uma grande intervenção na paisagem natural e paradoxalmente uma ajuda na preservação do ambiente, considerando o posterior desenvolvimento urbano desordenado. Por outro lado, a acentuada degeneração dos rios causada pela poluição doméstica tem prejudicado o funcionamento de várias unidades hidroelétricas. Água potável, tratamento de esgoto e áreas de lazer têm escasseado cada vez mais e o recente período de seca acentuou a necessidade de um reexame integrado de problemas hidro-energéticos. Um esforço foi empreendido nessa direção em setembro de 2014 com um colóquio público, Água e Energia: Crise e Desafios, a que se seguiram entrevistas e programas de televisão.
Há também um esforço para coordenar o projeto com grupos internacionais ligados à história da eletrificação, incluindo Argentina, Portugal, Espanha e França, por meio de conferências e assinatura de acordos de cooperação.
Algumas publicações
Furlan S, Alves Filho E, Limnos G. 2014. Paisagem e ambiente das primeiras usinas hidrelétricas do Estado de São Paulo. Congresso Iberoamericano de Estudos Territoriais e Ambientais. São Paulo, CD ROM;
Magalhães G (org.). 2012. História e Energia. Memória, informação e sociedade. São Paulo: Alameda. ISBN 9788579391491, 376 p.
Magalhães G. 2013. A milestone in the Atlantic rainforest: Itatinga dam and its power station. 24th International Congress of History of Science, Technology and Medicine. Manchester, CD ROM;
Magalhães G. 2014. Café, ferrovias, imigração e a eletrificação no Estado de São Paulo (1900/40). II Congresso Internacional sobre Patrimônio Industrial. Porto, CD ROM;
Magalhães G. 2014. Is small really beautiful? Controversies around operating early Brazilian power plants. Electric Worlds: Creations, Circulations, Tensions and Transitions, from the 19th to the 21st Centuries (Conference). Paris, CD ROM;
Magalhães G (org.). 2015. Projeto Eletromemória: História e Paisagem (dossiê). Revista Labor & Engenho, vol. 9, n. 1;
Meneguello C. 2014. Novos espaços, novas invisibilidades: sobre recentes processos de valorização do patrimônio industrial em cidades brasileiras. II Congresso Internacional sobre Patrimônio Industrial. Porto, CD ROM;
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Midori M, Cury M X, Magalhães G. 2014. A musealização do patrimônio industrial no Estado de São Paulo: uma análise do setor elétrico. II Congresso Internacional sobre Patrimônio Industrial. Porto, CD ROM;
Vitoriano MCCP. 2014. Modelos e políticas de preservação de arquivos privados no Brasil. XV ENANCIB. Belo Horizonte, CD ROM.